sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Bordado e Sua História

 

Ao contrário de outros artesanatos têxteis, o bordado teve desde suas origens uma função essencialmente estética e não utilitária, e por isso se tornou um campo muito atraente para a arte popular.

Bordado é a arte de ornamentar os tecidos com fios diferentes, formando desenhos. Esse trabalho executa-se à mão ou à máquina, com agulhas de várias grossuras e feitios, inclusive as de gancho ou crochê. Os fios empregados para bordar podem ser os mais variados: de algodão, seda, linho, ráfia, ouro e prata, e ainda de fibra sintética, náilon, acrílico e celofane. O bordado, além dos fios, complementa-se com outros elementos que vão de materiais preciosos, como ouro, prata, pérolas, pedras preciosas, lantejoulas e canutilhos, até os mais rústicos, como sementes, conchinhas, palha, contas de vidro ou de madeira etc. O bordado pode ser plano ou em relevo, que por vezes o torna semelhante a uma escultura.

Presume-se que o bordado seja uma das artes aplicadas mais antigas, que deve ter surgido logo após a descoberta da agulha. Por serem executados em material perecível, o tecido, os mais antigos bordados não se conservaram. Para estudá-los é preciso recorrer à documentação fornecida por monumentos antigos, em cujos baixos-relevos, esculturas, pinturas e gravuras são representados.

Nas civilizações antigas que se desenvolveram nas margens do Eufrates, a arte do bordado foi muito cultivada. Nos monumentos da Grécia antiga, aparecem figuras com túnicas bordadas. Os hebreus também usavam bordados, cuja invenção atribuíram a Noema. Em várias passagens da Bíblia há referência à arte de bordar. Homero fala dos bordados de Helena e Andrômaca, nos quais essas princesas documentaram episódios da guerra de Tróia. Os romanos pouco utilizaram o bordado até a formação do império, mas, a partir de então, essa arte generalizou-se.

Foi a partir do século VII, porém, que o interesse pelo bordado se tornou sistemático no Ocidente. Nos séculos seguintes, sua prática intensificou-se, a ponto de abadias e mosteiros se transformarem em verdadeiras oficinas de artesanato. As rainhas e suas damas também se dedicavam ao bordado. Em breve apareceram armas, brasões, escudos e pendões bordados a cores e em ouro e prata. No século XVI, difundiu-se o costume de bordar cenas semelhantes a pinturas, reproduzindo temas religiosos, históricos etc.

A Itália era, então, o centro de todas as artes. Os bordados italianos serviam de modelo para toda a Europa. O bordado, que até então era plano ou em relevo, tornou-se recortado e rendado, dando origem às rendas. Na Renascença, o bordado assumiu a condição de artesanato puramente decorativo. Já então não se limitava a ornamentar as vestes religiosas e civis: seu uso estendeu-se à decoração de interiores, em tapeçaria, estofos para móveis, reposteiros etc. No século XVII, começaram-se a bordar as toalhas de mesa e no século XVIII as roupas íntimas, aparecendo assim o bordado a branco.

Em 1821, um operário francês inventou a primeira máquina de bordar. Com seu aperfeiçoamento e sua multiplicação, o século XIX conheceu o declínio do bordado até o surgimento, já no final do século, de movimentos como o "Arts and Crafts" ("Artes e Ofícios") de William Morris, que o revitalizaram.

No século XX, apesar de ser possível a reprodução mecânica de todos os tipos de bordado, certos gêneros caíram em desuso e ocorreu um fenômeno de revalorização dos bordados manuais, a branco ou de aplicações complementares, que se tornaram símbolos de alto nível social. Até a década de 1950, inclusive, era costume o uso de peças bordadas em branco sobre branco: lençóis, toalhas de mesa e lenços. O bordado da ilha da Madeira, executado em fio azul bem claro sobre tecido branco, fazia parte do enxoval dos bebês.

Os luxuosos modelos dos vestidos de noite, copiados da alta costura, em geral eram bordados com aplicações de strass, lantejoulas, canutilhos, pérolas, fios dourados e prateados, com ornamentos e tecidos não contrastantes. Também os trajes de espetáculos musicais obedeciam a esse padrão, com variações mecanizadas e bem coloridas. A tendência à reciclagem estilística da moda fez com que os vestidos de noite bordados com aplicações voltassem.

O bordado de cor, manual, tradicionalmente se fez representar nos trabalhos folclóricos em todo o mundo, bastante valorizados. Nas fantasias dos desfiles de carnaval brasileiros, também são muito usados os bordados de todos os tipos. Os tapetes artesanais permaneceram muito bem cotados e difundidos, entre os quais o tipo arraiolo. Quanto à tapeçaria de parede, alguns artistas plásticos brasileiros como Genaro (Genaro Antônio Dantas de Carvalho) ficaram famosos elevando-a à categoria de obra de arte. Destacam-se, também, as tapeçarias de Madeleine Colaço, que inventou o ponto brasileiro, e Concessa Colaço.

O bordado a máquina conservou algum prestígio no gênero branco e no ornamento de tom idêntico ao do tecido, empregado em pequenos detalhes e em arremates muito estreitos de vestidos e blusas. Mesmo depois de industrializado, o bordado inglês permaneceu em uso, periodicamente reciclado pela moda, nos trajes femininos e infantis, e no adorno de fronhas e lençóis finos. O bordado de cor, mecanizado ou artesanal, simples e em diversas modalidades, desvalorizou-se muito (com exceção das peças folclóricas), embora ainda seja bastante usado, geralmente em tons claros, em roupas de crianças pequenas. O recamo de cor, mecanizado ou manual, atravessou o século, desde a criação dos tailleurs Chanel, sempre copiados.

A partir da década de 1970, o uso de materiais alternativos, pesquisas de novas fibras para tecidos e tendências extravagantes ou ecológicas da moda fizeram com que, periodicamente, surgissem peças de vestuário feminino em tecido ou tricô bordados com aplicações de conchinhas, miçangas, sementes, plaquinhas de metal etc. Tais fenômenos atestam a vitalidade e a capacidade de renovação da arte de bordar no século XX.

Tipos e materiais. Podem-se distinguir três tipos de bordado: o bordado a branco, o bordado de cor, que inclui os trabalhos de ouro e prata, e o bordado sobre tela, que inclui a tapeçaria, executado a agulha com lãs ou sedas.

Assim chamado porque se executa sobre toda espécie de tecido branco, com linhas de algodão, linho ou torçal da mesma cor do fundo, o bordado a branco também abrange o mesmo gênero de trabalho feito com cores delicadas, tom sobre tom. Os pontos mais empregados no bordado a branco são os do bordado de passagem, que se faz executando os contornos e as nervuras do desenho com pontos chamados de passagem, e depois preenchendo-os com esses mesmos pontos.

A essa variedade pertence o bordado recortado ou festão, que consiste em bordar e recortar o tecido, sem que desfie, seguindo os contornos de um desenho denteado. As variações desse tipo de bordado são o ponto veneziano, o ponto renascença e o ponto Richelieu. O bordado a cheio, ou ponto real, se faz sobre tecidos leves, como a cambraia, a opala, a batista e a musselina, por meio de um ponto horizontal que abraça o tecido tanto embaixo quanto em cima. O bordado inglês mistura o bordado de recorte e o cheio. O bordado de renda executa-se puxando fios de um tecido leve ou com aplicações mais ou menos complicadas. É um tipo de trabalho que tem antiga tradição em Portugal e no norte do Brasil, onde é chamado crivo.

Consiste o bordado de cor no uso de fios tintos em todas as cores e tons, e de fios de ouro e prata; já foi empregado pelos povos orientais. Os principais bordados de cor são o bordado de aplicação ou em relevo, o bordado mosaico, o recamo, o bordado de transporte e a guipure. O bordado de aplicação ou em relevo é aquele cujos ornamentos sobressaem, ganham relevo, graças à colocação, por baixo dos pontos, de algodão, feltro, cartão ou pergaminho, que os sustêm. No bordado mosaico, reúnem-se pedaços de tecido de diversas cores.

O bordado de transporte se executa trabalhando as partes do desenho em separado, para depois colocá-las sobre o tecido-base. O recamo é obtido cosendo-se no tecido-base galões, cordões e passamanaria, por meio de pontos bem juntos. Na guipure, uma série de bordados de aplicação se misturam, incluindo-se, em geral, entre seus elementos ouro, prata e pedras preciosas. Os paramentos litúrgicos quase sempre são bordados nesse tipo.

Pertencem também a essa categoria o bordado a matiz, conhecido como pintura a agulha, pois os fios estão dispostos de modo a imitar o mais possível a coloração natural dos objetos; o bordado de cadeia, gênero antigo e muito empregado no Oriente, que se fazia com os dedos e agulhas de coser e, com o surgimento do tambor, passou a ser executado com agulhas de crochê; e o ponto de nós, que se produz com uma seqüência de nós simples, cegos, ou corrediços, que formam uma roseta.

No bordado árabe, o ouro, a prata e as pérolas reúnem-se com fios de cor, ora sobre tecidos transparentes, gazes ou musselinas, ora sobre tecidos espessos e até couro, para aí desenhar modelos da maior fantasia. As letras árabes entrelaçadas, ou arabescos, dão a esse bordado seu cunho particular. O bordado chinês e o japonês usam uma variedade enorme de tonalidades de fios, o que lhes confere efeitos de luz e de cores de grande beleza.

O bordado sobre tela ou talagarça executa-se sobre um tecido de trama frouxa, que serve de guia para contar os pontos; uma vez pronto o trabalho, a tela é desfiada, deixando sobre o tecido-base apenas o bordado. A tapeçaria também emprega os pontos contados sobre um fundo de tela que permanece. Tem esse nome porque o resultado final do trabalho aparenta a tapeçaria tecida no tear. Pode ser feita com lãs, sedas ou fios metálicos.

http://www.emdiv.com.br/mundo/povosetradicoes/1722-o-bordado-e-sua-historia.html




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