segunda-feira, 4 de junho de 2007

Deixa


 




Deixa eu e o meu cadinho.
Deixa eu e minha roupa rasgada.
Deixa eu e minhas andanças noturnas.
Minhas batas, minha espada e athame,
Meus gênios
e minha falta de lógica.
minha dança e meu assovio.

Não quero a sua salvação anunciada,
sua América católica,
funcional, engessada.
matrimonial e democrata.

Queres que eu use seus mocassins?
não aceitas minha alpercata,
de dedos nus.
Sou subversivo, antagônico, conflitante,
Deixa-me no meu círculo,
no meu esbath, de peito aberto,
em cantiga,
não obediente, como o carneiro de Abraão.
mas livre, como um potro de Pan.

Não me julga, pois nesse tribunal serei revel.
Mas não fugirei de mim mesmo,
não mais.
Não adoro o Nazareno,
nem por isso sou corsário,
Lança longe de mim sua coroa de espinhos,
traga-me a guirlânda de Urânia, cheia de louros.
Ela não carrega os bons costumes,
nem o prugatório,
Mas não quero o Paraíso de João,
desejo Valhala de Tera.
Não quero Maria,
imaculada e piedosa.
Desejo Babalon.
rubra,
lânguida e robusta.

Não quero beatas,
cativas.
quero bruxas,
lobas,
quero amar a mulher
como o cão ama uma cadela.
No chão, lambendo,
sem culpa, lascívo,
revelando meu cabritismo,
longe do pecado.

Você não entende meu amor lunar.
Abomina minha Gaia,
Pois ela não sussura hipócrita
nos umbrais das catedrais.

Ela grita alto nas campinas,
Ôbèron, amante de Titânia!
Se sou filho de Baphometh? talvez.
Ou de Cernunnos, de Vênus.
mas sou Corifeu e envitado.
Não tente calar meu uivo pagão,
pois não me terá nos coros
das ladainhas apostólicas.
Sou descendente e sou o ancestral.
este filho de Hecate não
beberá de tua taça,
não renderá sua alma ao pontífice,
esqueça-me.
Deixa eu e o meu cadinho.

eu e meu cadinho.
por Ôþèrøn


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário