sexta-feira, 30 de maio de 2008

LÍNGUA PORTUGUESA*Olavo Bilac

LÍNGUA PORTUGUESA

Olavo Bilac


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amote assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

2 comentários:

  1. Ultm fl Flw

    (Uma resposta ao poema “Língua Portuguesa”, de Olavo Bilac)

    Bilac, meu caro amigo,
    Teus problemas foram poucos.
    A língua que exaltaste,
    É triste o que eu te digo.
    Parece coisa de loucos!
    Já tratam-na como a um traste.

    Primeiro a vã tentativa
    De unificar o idioma.
    Pois língua assim dividida,
    Dirão, com o tempo definha.
    (Pra mim tiraram a soma
    Desta operação mesquinha).

    Mataram hífens, acentos...
    Soldaram certos prefixos...
    E o tal do trema que some?
    Alguns preceitos prolixos
    Pr’aqueles sem-documentos
    A quase morrer de fome.

    E muitos, fugindo à norma,
    Tornam a coisa mais preta
    Usando o computador.
    Não raro falta uma letra,
    E em vez da correta forma
    Põem a que mais fácil for.

    Do jeito que as coisas vão
    Tudo tende a piorar,
    E eu já pressinto o horror.
    Para me comunicar
    Ou contrato um escrivão
    Ou me arranjam um tradutor.

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante a poesia!!Obrigado!!

    ResponderExcluir